CL e AT charakter (de Ésquilo em diante) é um subs. derivado de charasso, “entalhar”, “endentar”, e significa alguém que afia ou risca, e, mais tarde, a pessoa que escreve em pedra, madeira ou metal. A partir dai, veio a significar “gravador em relevo”, e uma “matriz” para fazer moedas, e, depois disso, encarando o resultado, o “rolevo” feito na moeda, “caráter” de quem escreve, “estilo”. Finalnente, veio a significar a estrutura básica física e psicológica que a pessoa recebe ao nascer, que é exclusiva para a pessoa, e que não pode ser mudada mediante a educação ou o desenvolvimento, embora possa vir a ser oculta ou apagada. Em Filo, a alma humana é chamada o charakter do poder divino, e o Logos é chamado o charakter de Deus (cf. Leg. All. 3, 95-104; Ebr. 133, 137; Rer. Div. Her. 38; Plant. 18; Det. Pot. Ins. 83).
Este conceito não pode realmente ser achado no AT, embora nos lembre levemente das passagens acerca da imago Dei. A palavra se acha na LXX (e.g. Lv 13:28), mas sem significado teológico específico (para Heb. sarebet, “cicatriz”).
NT charakter se acha uma só vez no NT. Cristo é o charakter tês hypostaseos autou, “a expressão exata do Seu Ser [de Deus]” (Hb 1:3), i.e, Aquele sobre Quem Deus carimbou ou imprimiu o Seu Ser. Assim, o uso neotestamentário é inteiramente diferente do nosso conceito moderno do caráter que se desenvolve mediante uma vontade que busca conformar-se a princípios. De modo semelhante, quando Hb. 5:8 declara que Jesus aprendeu a obediência mediante aquilo que sofreu, não há qualquer idéia do nosso conceito da formação do caráter. Provavelmente tem a ver com a obediência do Filho ao Pai, que foi testada mediante a tentação (O. Michel, Der Brief an die Herbrizer) CEK 133 196612 ad loc. O Filho possui a impressão da natureza de Deus, assim como é a — apaugasma tês doxés tou theou, “a efulgência do esplendor de Deus” (NEB). Aquele que O vê e O reconhece, vê e conhece o Pai (Jo 14:7 e segs.); cf. também — eikon tou theou, “a imagem de Deus”.
O contexto de Hb cap. 1 torna claro que o propósito do escritor era ressaltar a glória do Filho que entrara na história, e a natureza sem igual da revelação de Deus mediante Aquele que era sem igual. No v. 3, provavelmente temos um hino primitivo, assim como em Fp 2:6 e segs. e 1 Tm 3:16. O Filho que controla o começo e o fim (v. 2), tem relacionamento sem igual (a) com Deus cuja efulgência (apaugasua) e impressão (charakter) Ele é; (b) com o universo que Ele sustenta; e (c) com a igreja, a qual Ele purificou do pecado. A Epístola se ocupa, igualmente, com o Cristo pre-existente, histórico e glorificado, em Quem temos nosso verdadeiro Sumo Sacerdote. F. F. Bruce, comentando a palavra, charakter, escreve: "Assim como a imagem e inscrição numa moeda correspondem exatamente ao desenho e as palavras na matriz, assim também o Filho de Deus "traz a própria impressão da Sua natureza" (RSV).
A palavra gr. charakter, que ocorre somente aqui no Novo Testamento, expressa esta verdade ainda mais enfaticamente do que eikon, que se emprega noutros lugares para denotar Cristo como sendo a "imagem" de Deus (2 Co 4:4; Cl 1:15), Assim como a glória realmente subsiste na efulgência, assim também a substância (Gr. hypostasis) de Deus realmente subsiste em Cristo, que é sua impressão, representação e encarnação. Aquilo que Deus é essencialmente, tomou-se manifesto em Cristo. Ver a Cristo é ver como é o Pai" (Commentary on the Epistle to the Hebrews, NLC, 1964, 6).
J. Gess
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