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Programa Verdade e Vida

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Para Meus Alunos: Exposição de Atos


AULA 2 – EXPOSIÇÃO DE ATOS

O TEMA DE ATOS DOS APÓSTOLOS: O ENVIO DOS DISCÍPULOS ATÉ OS CONFINS DA TERRA - Atos 1.1-8 (em sua Terra)
A ASCENSÃO DE JESUS - Atos 1.9-12
A ESPERA EM ORAÇÃO PELA EFUSÃO DO ESPÍRITO - Atos 1.13-14
A ELEIÇÃO PARA A VAGA DO 12º APÓSTOLO - Atos 1.15-26
A VINDA DO ESPÍRITO NO DIA DE PENTECOSTES - Atos 2.1-13
O “SERMÃO PENTECOSTAL” DE PEDRO - Atos 2.14-36
O CHAMADO À CONVERSÃO E SALVAÇÃO - Atos 2.37-41
A VIDA DA PRIMEIRA IGREJA - Atos 2.42-47
A CURA DO COXO - Atos 3.1-10
NOVA PREGAÇÃO NO TEMPLO - Atos 3.11-26
O PRIMEIRO INQUÉRITO DIANTE DO SINÉDRIO - Atos 4.1-22
O RELATO PERANTE A IGREJA E A ORAÇÃO DA IGREJA - Atos 4.23-31
UM SEGUNDO RELATO SOBRE A VIDA DA PRIMEIRA IGREJA - Atos 4.32-37
ANANIAS E SAFIRA - Atos 5.1-11
UM TERCEIRO RELATO SOBRE A VIDA DA PRIMEIRA IGREJA - Atos 5.12-16
O SEGUNDO INTERROGATÓRIO PERANTE O SINÉDRIO - Atos 5.17-42
A ESCOLHA DOS SETE - Atos 6.1-7
ESTÊVÃO E O COMEÇO DO PROCESSO CONTRA ELE - Atos 6.8-15
O DISCURSO DE ESTÊVÃO - Atos 7.1-53
O FIM DE ESTÊVÃO E A PERSEGUIÇÃO DA IGREJA POR SAULO - Atos 7.54-8.3

2.1: Atos 1.1
Atos dos Apóstolos não começa com um “prefácio” propriamente dito, como o evangelho de Lucas. Isso é digno de nota. No evangelho, Lucas pode argumentar que “muitos” já fizeram o que ele também está empreendendo com o seu escrito. Não era nada de novo e extraordinário. Agora, porém, ele apresenta um livro para o qual não havia modelo e que existe como grandeza solitária. Como teria sido plausível que o autor dissesse algo sobre como foi levado a essa nova e audaciosa idéia: retratar a época apostólica numa segunda obra histórica. Ele não diz nada, e de imediato passa ao objeto em si da obra. Distancia-se de qualquer atenção para si mesmo. Contudo aponta para seu primeiro livro. Esse gesto também não está interessado em ressaltar sua realização, nem mesmo em fazer uma correlação literária plausível, mas sim no conteúdo em comum. Desde já somos direcionados na direção correta: está em questão o Único, que ocupa o centro, mesmo quando os “atos dos apóstolos” são relatados. Nesse sentido mais profundo, Atos dos Apóstolos é uma “continuação” do evangelho, e não uma segunda obra independente do autor. Teófilo soube de “todas as coisas que Jesus começou a fazer e ensinar” por meio do evangelho de Lucas. Agora ele há de ouvir o que Jesus continuou a efetuar e anunciar.

2.2 Atos1.6e7
V.6 Deveríamos perguntar seriamente, por que, afinal, o “reino dos mil anos”, o “reinado dos céus” sobre esta terra não começou imediatamente depois da Páscoa? A solução estava consumada, o pecado do mundo havia sido tirado, a morte tinha sido destituída de seu poder, Satanás estava derrotado, todo o poder fora entregue na mão de Jesus. Não era imperioso que agora viesse o cumprimento das promessas do reino? V.7Por essa razão, a resposta de Jesus aos apóstolos também não contém qualquer conotação de crítica ou repreensão das expectativas em si. Ele somente declara: “Não vos compete conhecer tempos e prazos que o Pai fixou por sua própria autoridade.”

2.3 Atos 1.11
Os discípulos já haviam recebido a ordem, agora não deveriam mais ficar esperando o desfecho daquela história, pois o mesmo Jesus que agora está assunto aos céus votará para buscar a Sua Igreja. De tal forma, que a missão foi nos dada, e nos compete não olhar para os céus na espera da conclusão da cena extraordinária de Jesus subindo, e sim, cumprir a nossa missão para que assim Ele volte.

2.4 Atos1.13
Os discípulos cumprem a ordem de Jesus: “Esperem!” Para isso, recolhem-se ao silêncio oferecido pelo “cenáculo” [recinto superior], diferente das peças da casa no andar de baixo. Lucas afirma expressamente que esse não apenas era um encontro isolado depois da ascensão, mas que levou a uma reunião permanente durante todos os dias. Sim, teremos de imaginar essa casa com a peça no andar superior como sendo o local de permanência constante dos apóstolos enquanto de fato estavam em Jerusalém.


terça-feira, 15 de novembro de 2011

LAODICÉIA Ap 3.14-22


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À igreja em Laodicéia, 3.14-22
14 Ao anjo (cf. nota 179) da igreja em Laodicéia (cf. nota 180) escreve: Estas coisas diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus:
15 Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente!
16 Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca;
17 pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu.
18 Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os olhos, a fim de que vejas.
19 Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te.
20 Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo.
21 Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu trono.
22 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.
14 Sobre a indicação dos destinatários e a ordem para escrever, cf. EXCURSO 1a, sobre a auto-apresentação, cf. EXCURSO 1b. Estas coisas diz o Amém. Em 2Co 1.20 ainda se formula de maneira gramaticalmente correta: ―Cristo é o Amém [neutro]‖. Aqui, porém, consta uma abreviação lapidar: o Amém ([masculino] a saber: aquele que se chama ou é Amém). Ponto de partida talvez seja Is 65.16. Deus não apenas jura, Ele próprio é um juramento. Entre Ele e Sua Palavra simplesmente não se pode meter nenhuma cunha, porque nEle não existe um ―entre‖. Seu dizer e ser apóiam-se um sobre o outro e são a mesma coisa. Esse Deus, pois, mostra sua face em Jesus. Quem vê Jesus, consegue contemplar o Amém, ouvir seu juramento, experimentar sua fidelidade.
Esse Senhor depara-se com uma igreja que é totalmente igreja por aparência. Também em outras igrejas ocorrem abismos entre aparência e verdadeiro ser. Aqui, porém, o acusado ainda interrompe presunçosamente para se justificar (v. 17): ―Tenho tudo, não me falta nada‖. Por meio dessa glorificação própria, Laodicéia chega a uma perigosa vizinhança com a Babilônia (Ap 18.7). Sob essas condições, o que seria o testemunho cristão senão mera enxurrada de palavras? Incide, portanto, no âmago dessa verborréia a palavra, o juramento, o Amém.
A testemunha fiel e verdadeira. A ―testemunha fiel‖, reforçada por ―verdadeira‖ (cf. nota 230) deve ser interpretada conforme Ap 1.5, a saber, na sua relação com a Sexta-Feira da Paixão. O Amém que Ele concretiza, o juramento que Seu amor jura, foram selados pelo seu sangue. Todo discurso de Deus em Cristo é consistente em si e aproxima-se dessa igreja morna como eternamente confiável, como fidelidade pura e como amor ardente. Será que esse braseiro poderá incendiar-se em Laodicéia?
A auto-apresentação encerra-se com as palavras: o princípio da criação. De acordo com Cl 1.18 e, sobretudo, com Ap 1.5, é recomendável que essa formulação remeta à Páscoa enquanto fundação do novo mundo. Conseqüentemente, todas as designações possuem profundidade cristológica. Fala-se de Sexta-Feira da Paixão e Páscoa, e o oráculo do vencedor no v. 21 fala da Ascensão. A proclamação dos grandes feitos de Deus emoldura, portanto, a mensagem a Laodicéia.
É evidente que isso acontece intencionalmente diante de uma igreja para a qual nada é tão necessário quanto ser novamente evangelizada. Essa missiva distingue-se das demais pelo fato de que fala incessantemente de Cristo e o aproxima em renovadas formulações da situação da igreja (cf. o comentário sobre os ditos de gravação), pressupondo pouco e não abordando nenhuma correlação bíblica mais profunda. Em contrapartida, refere-se de modo especialmente nítido à situação da igreja. Não é por acaso que evangelistas preferem esse texto.
15 O inquérito judicial (EXCURSO 1c) trata essa igreja como um bloco único. Não há os ―demais‖ (Ap 2.24) ou ―alguns‖ (Ap 3.4 [BLH]) que se mantêm fiéis. Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Água fervente ou fria tem utilidade. Contudo, a quem fortaleceria ou refrescaria água morna? Nessa passagem, ela está sendo oferecida a Cristo, pois ele a degusta em sua boca (v. 16). Ela o repugna. Ele é hóspede em Laodicéia e, com a maior tranqüilidade, os anfitriões servem-lhe água morna. Servem-no com seu serviço lerdo, com seus cultos sonolentos, com orações de ladainhas e com seu cuidado pastoral negligente. Conheço, diz o Senhor diante dessa atividade. Obviamente ele o sabe, pois ele tem de experimentá-lo. Toda a mornidão na comunidade, toda atitude lerda e desligada, também diante das pessoas, fere a ele. O que é feito a um de seus mais humildes irmãos, é praticado contra ele.
Não somente Cristo, também Satanás conhece a maré espiritual baixa da comunidade (cf. o comentário a Ap 3.1). Por isso ele os deixa integralmente em paz. Por isso não se informa nada sobre tentação e perseguição, negação, apostasia ou abalos. Tudo está intacto e tudo se realiza. O quadro de membros não dá razão para preocupações. Sim, os membros mornos consideram o Senhor Jesus Cristo tão inócuo, que nem sequer se desligam.
Quem dera fosses frio ou quente! Essa exclamação denota uma avaliação definida. O grau mais alto é ―quente‖, p. ex., nos termos de Rm 12.11: ―sede fervorosos de espírito‖. Depois segue-se na escala de valores a rejeição clara e fria. No nível mais baixo, porém, está a mornidão. É nele que se abafa de modo suave, mas determinado, o ardor e rugir do Espírito, evitando-se de toda forma ser um adversário. Normalmente, esse caminho intermediário entre os extremos é considerado o ―equilíbrio áureo‖. Contudo, o cristão ―nem a favor nem contra‖ na verdade não se encontra no meio, mas sim em queda livre, no ponto mais baixo da escala de valores.
Entre a acusação e a palavra de ameaça (EXCURSO 1d) normalmente encontra-se o chamado ao arrependimento. Na presente missiva, porém, precipita-se uma ira tão incandescida sobre a situação da comunidade que a ameaça é acrescentada no mesmo fôlego. Isso não significa que não seja mais possível o arrependimento, pois mais adiante segue-se o convite para ele. Antes significa que diante da igreja amornada não se apresenta nenhum Senhor morno. Seu ardor é esperança para todos os mornos.
16 Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca. Com vistas a quatro igrejas o Senhor dissera: ―Tenho algo contra ti!‖ Agora é declarado: ―Tu me repugnas!‖ Esse é o ápice da condenação. Ainda assim – ele ainda suporta os insuportáveis por algum tempo. Justamente nesse ponto segue-se uma palavra de arrependimento extraordinária (EXCURSO 1d), um lutar e requestar por Laodicéia.
17 Agora a igreja toma a palavra, revelando uma arrasadora ignorância diante do conhecimento de seu Senhor no v. 15: pois dizes: Estou rico e abastado. Foi assim que falou em outra ocasião o rico fazendeiro em Lc 12.19. No presente texto fala um comerciante rico. ―Sim‖, pondera ele, ―tornei-me rico‖. Conhecemos a opinião das pessoas bem-sucedidas, como se refestelam em suas recordações sobre como levantaram seus negócios. No passado assumiram um pequeno comércio, agora possuem uma gigantesca loja de departamentos! A conclusão talvez soe como Zc 11.5: ―Não o consideram pecado algum, e dizem: louvado seja Deus, agora sou rico!‖ (tradução do autor). Da mesma maneira acontece aqui, que a gabolice com o sucesso material transita para a presunção de uma posse religiosa. N preciso de coisa alguma. Em 1Co 12.21 essa formulação ocorre em relação a outro membro da igreja: o irmão não tem nada de significativo para me oferecer. O que ele fala não é importante. Comigo mesmo tenho o suficiente. No presente texto, porém, o orgulho do que providencia tudo por si mesmo levanta-se diante do próprio Senhor. Jo 15.5 é virado de pernas para o ar: ―Sem ti podemos realizar tudo!‖ É assustador formulá-lo dessa maneira, mas quantas vezes isso é praticado na vida (1Co 4.8)! Nessa auto-suficiência diante de Jesus, nesse afastamento do trono de sua graça residem o pecado originário da igreja, bem como o começo do fim.
Entretanto, nem mesmo Sansão notou que sua força o abandonara: e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável (―e nem sabes que és miserável e digno de pena‖ [tradução do autor]). É assim que se apresenta o quadro da realidade do homem ativo nos negócios e conformado com o mundo, que acompanha tudo. Ele está tenso e desgastado, o tipo de atribulado de Mt 11.28 (o mesmo vocábulo em Rm 7.24). Ele deveria chegar a Jesus, porém não o sabe. Ele se considera independente: ―Não careço de nada‖. Contudo, tem necessidade dos remédios e da cura para o coração. Toda vez que alcança o sossego, busca o divertimento e os compromissos, saindo logo de novo às pressas. Sobretudo teria necessidade da compaixão e, finalmente, do arrependimento. E por estar tão sobrecarregado, é digno de pena. A ira não torna Jesus cego para o pecador. Ele preserva o olhar pela pobre criatura. Ela lhe dá pena, e muito mais quando ela mesma não tem consciência de si, mas ainda se auto-engrandece. O estado espiritual é caracterizado com três ilustrações: pobre, cego e nu (cf. abaixo).
18 A esses três pontos enfermos correspondem os três conselhos. Aconselho-te. Talvez haja aqui uma conotação do linguajar comercial. Jesus se apresenta como comerciante (Mt 13.45), oferecendo três especialidades de Laodicéia famosas naquele tempo. Pelo que se evidencia, a igreja entrementes misturou-se intimamente com o mundo que a envolve. Enquanto antes constituía um templo de Deus nessa cidade de lojas, agora ela própria se tornou um estabelecimento comercial (Jo 2.16), estando acomodada ao seu contexto. O espírito de negócios, de compra e de regateio, havia deslocado o Espírito Santo. Por amor à igreja, porém, Jesus se transforma num mercador, que tenta superar todos os seus concorrentes: ―de mim compres, com toda a certeza receberás boa mercadoria‖. Com tenacidade, quase como de um mascate, ele oferece ora isso, ora aquilo, sempre apresentando ao freguês reticente novas mercadorias. O Filho Eterno se rebaixa a um ponto tão humilde. Fez-se um laodicense para os laodicenses, a fim de conquistá-los.
Com o que Laodicéia deverá pagar? Seguramente essa resposta teria de ser respondida com Is 55.1: ―Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite‖ Também Ap 22.17 conhece essa curiosa ―aquisição‖. Com certeza reside nisso um indício dos altos ―preços‖ que o ser humano paga nesse mundo por artigos de pouco valor, comprometendo pureza, honra, paz e saúde. Junto desse novo ―comerciante‖ na verdade se comprará com vantagens, sim, de forma extraordinariamente vantajosa, a saber, de graça. Ele começa com suas ofertas:
De mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres. O ouro dos bancos de Laodicéia tinha boa fama por causa da consistência de seu valor (cf. nota 243). Ao adquiri-lo, o freguês estava bem atendido. Contudo o mercador adverte: ―Todos vocês que se abasteceram do ouro de Laodicéia, são pobres e terrivelmente enganados. Façam rapidamente negócios comigo e tornem-se verdadeiramente ricos.‖ Nesse texto, ―ouro‖ é expressão da verdadeira posse. Todas as missivas às igrejas falaram sobre ter e não ter (nota 185). Cristo faz o balanço. Ele encontra prateleiras totalmente vazias. Contudo, ainda há tempo. Ele quer ajudar a igreja a passar do passivo para o disponível, ou seja, para que tenha amor, fé, serviço, testemunho, esperança (cf. 1Pe 1.7,18; 1Co 12,13).
Vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez. Laodicéia possuía uma indústria têxtil produtiva, sobretudo para tecidos pretos, da moda (cf. nota 243) – Diz-se que os acusados compareciam de preto diante do tribunal. Os condenados eram despidos (aqui, no v. 17; também Jesus foi despido antes da crucificação), réus absolvidos recebiam uma veste branca (cf. o comentário a Ap 3.4). São essas as correlações do nosso texto. O Senhor não deseja a nudez de sua igreja. Ele lhe oferece purificação e absolvição.
E colírio (―pomada‖) para ungires os olhos, a fim de que vejas. No Oriente as doenças nos olhos eram muito freqüentes, causadas pela forte irradiação solar, por constante poeira, exigüidade da água e falta geral de higiene. Por isso havia muitos cegos, muitos médicos de olhos e centenas de diferentes remédios na forma de pomadas, talcos e gotas. Também Laodicéia comercializava uma famosa marca desses produtos (cf. nota 243).
Quando o v. 17 chama a igreja de cega, sintetiza-se toda a miséria. Muitas vezes os cegos são pobres, e os pobres andam precariamente vestidos. A causa da pobreza e nudez reside na cegueira. A cegueira espiritual, da qual o AT fala com tanta freqüência, refere-se ao direito de Deus de fazer reivindicações, às conseqüências da desobediência, bem como à subestimação do pecado e de Satanás. De acordo com Jo 9.41 essa cegueira espiritual acomete aquele que a nega. Imaginemos uma pessoa cega que se porta como se pudesse ver, não permitindo que seja conduzida, nem tateando cautelosamente no seu caminho. ―Não preciso de ninguém, sei fazer tudo sozinho!‖ É essa a desastrosa cegueira que se apresenta no presente texto (v. 17).
Foi por isso que o grande médico de olhos diagnosticou primeiro: ―Estás cego!‖ e agora declara: ―Vendo para ti pomada para os olhos!‖
19 Nesse instante o Senhor tira a máscara do comerciante aplicado aos negócios, revelando-se como aquele que ele é: como amigo de todas as igrejas: Eu repreendo e disciplino a quantos amo. O amor de amigo (Jo 15.14,15, aqui no v. 20) expressa-se em duas atividades que, na formulação, constituem uma repercussão de Pv 3.12 (e Hb 12.7), mas que novamente devem ser examinadas no seu contexto. Lá elas estão inseridas na relação pai-filho, e naquele contexto a disciplina é sofrer castigo. Contudo, é estranho a João falar de Cristo como o Pai dos discípulos. Igualmente falta no trecho qualquer vestígio de sofrimento por castigo. Por um lado, entre amigos focaliza-se a palavra da verdade: Eu repreendo (―corrijo‖). O amigo rejeita tudo o que não for verdade. Inexoravelmente ele examina as obras e cita de forma aberta o que for imprestável. Segue-se a palavra da punição: Eu disciplino. Ele ameaça com ira ardente, destroça a presunção, exige conseqüências e ordena o arrependimento. Tudo isso se espelha na mensagem à igreja. Ela também está entremeada da busca pela atenção, o chamado para despertar e convidar. Ainda que não seja possível o elogio, nem por isso há falta do amor. Também na ira o Senhor se lembra de sua misericórdia e ―não é com prazer que ele nos causa sofrimento ou dor‖ (Lm 3.33 [BLH]).
Sê, pois, (daqui em diante) zeloso e arrepende-te. A primeira das duas exortações está na forma verbal de continuidade. Aos anos de mornidão (v. 16) devem seguir-se anos de zelo. Que sejam tomados do zelo de Jesus quando purificou o templo (Jo 2.17) e que seja queimado o zelo antigo, impuro, que fez da comunidade uma casa de comércio. Fora com o ativismo afundado no mundo, com o regatear, acumular, trabalhar, correr e apressar-se por nada! O nome, o reino e a vontade de Deus passam a determinar os pensamentos de forma nova.
20 Arrependimento desencadeia-se diante de Cristo, e somente diante dele (EXCURSO 1d): Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa. Na Antigüidade se podia solicitar ingresso numa casa de duas maneiras: ou se batia com uma argola metálica, ou simplesmente se chamava. Aqui ressoam ambos, a batida e a voz, um sinal da premência da vontade. Como é que os laodicenses ouviam a voz de Jesus? Por doença, sofrimento ou acontecimentos históricos? Conforme Jo 10.3,27; 18.37 e sobretudo conforme as sete exortações ―ouça!‖ nos ditos de gravação, cabe considerar o falar do Espírito precisamente nessas mensagens às igrejas. Nelas o Senhor se apresentava e se apresenta às suas igrejas, fazendo ressoar a sua voz.
Embora não lhe faltem chaves (Ap 1.18; 3.7), ele deixa a abertura por conta das próprias pessoas. Distancia-se de todos os meios violentos de penetrar no pecador, abordando-o com o amor mais nobre. Não existem hóspedes mais distintos que ele e seu Espírito. Diante dele pessoas se tornam novamente verdadeiros seres humanos, responsáveis até o extremo. Por isso também são culpadas ao extremo quando trancam esse amor do lado de fora.
Quando Jesus entra no recinto daquele que lhe abre? Na sua segunda vinda? Em passagem alguma é ensinado que o Senhor entra em pessoas isoladas na ocasião de sua volta. Ou será que essa entrada sucede quando se celebra a Ceia do Senhor? Como tentamos evidenciar pela tradução, o texto usa uma palavra muito genérica para falar de uma refeição comunitária, que não deveria ser relacionada de imediato com a celebração da Ceia do Senhor: e cearei com ele. Como comparação devem ser observados versículos de João que falam da vinda do Senhor exaltado por meio do Espírito: Jo 14.23,18; 16.7,13,22. Ele passa imediatamente por cada porta que se abre para ele por meio do arrependimento. Lá dentro não há necessidade de esperar pela próxima celebração da Ceia do Senhor. Sua presença no Espírito Santo (à semelhança de Mt 28.20; 18.20) é caracterizada assim: e cearei com ele, e ele, comigo. Talvez a inversão indique uma troca de papéis. O hóspede torna-se anfitrião. O Jesus que entrou providencia o copo cheio e o pão da vida. Visto que em última análise o arrependimento acontece às suas custas, arrependermo-nos é para nós uma ―obra alegre‖ (Lutero).
21 Aquilo que até aqui caracterizou a última missiva, a saber, a máxima culpa, o mais extremo perigo, o mais insistente chamado ao arrependimento, o mais intenso amor, isso também se prolonga no oráculo do vencedor (EXCURSO 1f): novamente um ápice, a saber, uma promessa mais sublime. Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono. O ―comigo‖ do v. 20 prolonga-se até a consumação. ―Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória‖ (Jo 17.24). A comunhão de mesa secreta é transformada em comunhão de trono pública. A ilustração tem sentido por causa das amplas salas dos tronos na Antigüidade. Porém, é tão somente uma ilustração, que tenta expressar o inexprimível. O vencedor é acolhido numa comunhão de trono já existente anteriormente: assim como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu trono. A partir do cap. 5 o leitor da Bíblia sabe a que data o Senhor está aludindo e de que espécie era essa vitória: Ele venceu na Sexta-Feira da Paixão, quando morreu pelo mundo e também por Laodicéia. É desde então que ele reina (cf. nota 162). Entretanto, sua igreja ainda se encontra na luta da fé, até que também ela possa assentar-se.
O judaísmo ensinava que no céu ninguém além de Deus está sentado. Todos os demais estão de pé. Diante desse pano de fundo essa promessa é intensificada de uma maneira que extrapola todas as medidas e conceitos. O trono de Deus constitui a figura central do Apocalipse de Ap 1.4 a 22.4. Ele é mencionado em 47 passagens. Ele é o ponto de partida de todos os acontecimentos no céu e na terra, no mundo antigo e no novo. Sobre esse trono, porém, Cristo ―preparou um lugar‖ (Jo 14.2) para sua igreja em Laodicéia. Essa palavra é afirmada numa hora em que a igreja ainda é morna. Jesus lhe oferece a última coisa que possui, sua comunhão com o Pai no trono.
22 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Que diz o Espírito às igrejas através dessa última mensagem, resumidora? Ele fala de Jesus! Jesus é o Amém [masculino], a fiel testemunha, o Primeiro da criação, o Juiz, o purificador do templo, o comerciante, amigo, hóspede, anfitrião, o vencedor e entronizado, e o Filho. Assim cumpre-se Jo 16.14: ―Ele me glorificará‖, ainda que fale sobre pecado, arrependimento, juízo e salvação.
Não seria espiritualmente correto depreender desses dois capítulos nada mais que ―Tu deves!‖. Eles representam uma imponente nova proclamação do Senhor Jesus, para que sua igreja não se torne uma igreja de aparências. Certamente ela própria está sendo desmascarada nesse processo. Mas igualmente está sendo manifesto aquele que diz: ―Eu sou‖, ―eu conheço‖, ―eu quero‖, ―eu venho, eu dou.‖

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

À igreja em Filadélfia, 3.7-13

À igreja em Filadélfia, 3.7-13
7 Ao anjo (cf. nota 179) da igreja em Filadélfia (cf. nota 180) escreve: Estas coisas diz o santo, o verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi, que abre, e ninguém fechará, e que fecha, e ninguém abrirá:
8 Conheço as tuas obras — eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar — que tens pouca força, entretanto, guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome.
9 Eis farei que alguns dos que são da sinagoga de Satanás, desses que a si mesmos se declaram judeus e não são, mas mentem, eis que os farei vir e prostrar-se aos teus pés e conhecer que eu te amei.
10 Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei (e salvarei) da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra.
11 Venho sem demora. Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa (de vitória). 12 Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais sairá; gravarei também sobre ele o nome do meu Deus, o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que desce do céu, vinda da parte do meu Deus, e o meu novo nome.
13 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.
7 Quanto à indicação dos destinatários e à ordem para escrever, cf. o EXCURSO 1a. A auto-apresentação do emitente da mensagem (EXCURSO 1b) faz conexão com Ap 1.18 somente por meio da palavra chave. Lá tratava-se das chaves para o mundo dos mortos. Sobre a chave bem diferente na presente passagem, cf. Is 22.20-22. Eliaquim está para ser instalado no cargo de mestre da corte e, como emblema do cargo, deverá carregar uma grande chave sobre os ombros. Possui acesso a todos os recintos, sobretudo para os armazéns, pois tem de ser ―pai‖ e abastecer a todos. O judaísmo interpretou a passagem no sentido messiânico. O fato de que não se está mais falando da chave para a casa de Davi, mas simplesmente da chave de Davi, expressa a determinação para espiritualizar. O palácio de Davi na Jerusalém terrena não interessa, mas sim a salvação de Davi na nova Jerusalém. Cristo torna acessíveis os tesouros do mundo salutar de Deus (Rm 8.32). Ele possui as chaves de todos os recintos, para o reino dos mortos (de acordo com Ap 1.18) e para o reino da salvação (de acordo com Ap 3.7). A ele foi dada toda a autoridade no céu e na terra (Mt 28.18).
Prossegue a fala com conceitos do AT: o santo, o verdadeiro. A segunda designação reforça a primeira. Ele é o verdadeiramente santo. Desse modo Jesus se ornamenta com uma das mais freqüentes designações do judaísmo. Em nenhum livro, porém, ela ocorre com tanta predominância quanto em Isaías (mais de 60 ocorrências). Deus é o Puro e resiste a tudo que não lhe é idêntico. Não obstante, Deus não se subtrai aos desiguais. Não, ele é tão avesso à impureza que aborda os impuros, ataca-os e vence-os com sua pureza. O Santo é tão santo que santifica. Foi por isso que justamente Jesus pôde tornar-se portador desse título (p. ex., Jo 6.69). Associava-se de modo singular com o título do servo de Deus (p. ex., At 4.27,30), que por sua vez se origina de Isaías. Jesus é o ―Servo santo‖, ungido por Deus.
A auto-apresentação, portanto, tem cunho lingüístico de Isaías. Essa coloração se impõe ao trecho todo. Não apenas que a função de Jesus como controlador da porta continua sendo tema no versículo seguinte, transparecendo mais uma vez no oráculo do vencedor. Também muitos outros pormenores e o contexto todo respiram a mensagem de consolo do livro de Isaías.
Como devemos distinguir essa missiva da dirigida a Esmirna, com a qual há tantos pontos em comum? Ambas as comunidades não recebem nenhuma acusação, mas são consoladas. Ambas sofrem sob a ―sinagoga de Satanás‖ (Ap 2.9; 3.9). A ambas fala-se sobre a grinalda da vitória (Ap 2.10; 3.11). Mas não obstante são diferentes. Filadélfia não recebe nenhuma perseguição adicional pelas autoridades gentílicas como em Ap 2.10. A igreja tem de enfrentar unicamente judeus. Poucos anos depois Inácio envia uma carta a Filadélfia, que avalia a igreja de modo muito similar: sua existência é digna de louvor, mas ela está envolvida em graves antagonismos com os judeus, que acreditam poder usar o AT como arma. Talvez seja em vista disso que a presente mensagem à igreja local esteja profundamente mergulhada no AT. Os cristãos devem ser fortalecidos na consciência de que o AT não fornece nenhuma base a favor, mas somente contra o judaísmo de lá. Para os cristãos em Esmirna, porém, central a controvérsia com os gentios passou a ponto prioritário de forma predominante. Por isso são lembrados da trajetória da cruz, que mostra Jesus entregue nas mãos dos gentios.
Por essa razão, a mensagem a Esmirna é a mais neotestamentária de todas, tendo no centro o personagem sofredor do NT. Em contraposição, a igreja em Filadélfia recebe a palavra do AT, tendo no centro o santo servo de Deus.
8 O inquérito judicial (EXCURSO 1c) é interrompido, no começo, por uma palavra de ânimo: eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar. A igreja sofria sob as tentativas de isolamento por parte dos judeus, que declaravam que ela não tinha acesso a Deus e combatiam o seu caráter de povo de Deus, a saber, que verdadeiramente fossem judeus (v. 9). Contudo o Senhor lhe declara de antemão a sua confiança. Como grande tesoureiro, ele lhe assegura acesso atual e futuro a todos os bens da salvação.
Via de regra também uma porta aberta para a missão fará parte dos tesouros de Cristo. Em última análise, não se consegue romper o sítio da desconfiança, do preconceito e do ódio por meio da habilidade ou amabilidade dos cristãos, mas isso constitui uma dádiva de Cristo. Contudo, o trecho em análise não contém nenhuma menção da missão aos gentios. E também o oráculo do vencedor refere-se ao acesso à cidade de Deus, não ao mundo gentílico. Será que a igreja realmente se encontra no amor e na eleição de Deus? É esse o ponto em questão.
Como poderá apresentar-se uma igreja eleita? Tens pouca força (―uma força pequena‖). ―Não temas, ó vermezinho de Jacó, povozinho de Israel‖, ouvimos também em Is 41.14, numa passagem que certamente era conhecida dos judeus, mas que precisava ser dita a eles de forma nova. A partir dessa referência, prolonga-se pelo NT a idéia da pequena comunidade. Fala-se do ―pequeno rebanho‖ (Lc 12.32), da ―menor de todas as sementes‖ (Mt 13.32), da ―fé como um grão de mostarda‖ (Mt 17.20); e em Mateus encontram-se as designações dos discípulos como sendo ―pequenos‖ ou ―humildes‖ (Mt 10.42; 18.6,10,14; 25.40,45). Essas constatações são repetidamente combinadas, como em Is 41.14 e aqui, com uma declaração especial de proteção.
Acaso a igreja em Filadélfia era pequena em número ou no aspecto financeiro? Ou será que a intenção é recordar a pouca formação e a origem nos segmentos inferiores da sociedade (1Co 1.26)? Tudo isso pode estar na raiz da afirmação, porém a ênfase cai sobre as poucas possibilidades de ação: ―Não tens influência!‖ Dessa irrelevância no plano imanente concluía-se, da parte dos judeus, para a relação com Deus. Uma dedução falsa, corrigida pela primeira parte do versículo.
Teria sido muito compreensível se a igreja em Filadélfia tivesse afirmado: ―O mundo é grande, e nós somos pequenos. Por isso não trará nenhuma diferença o que fizermos ou deixarmos de fazer.‖ A igreja, porém, foi fiel: entretanto, guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome. É preciso comparar Ap 2.13 com o presente elogio. Lá foi vencida a prova contra o ―trono de Satanás‖, aqui contra a ―sinagoga de Satanás‖ (v. 9). Os judeus haviam submetido os cristãos à pressão para renegarem a Jesus. É conhecido por nome um judeu (a saber, Paulo), que forçou cristãos a amaldiçoarem Jesus. Ele próprio o relatou: ―Eu os obrigava a blasfemar‖ (At 26.11).
9 A palavra de consolo e exortação (EXCURSO 1d) começa com o segundo ―eis‖ (duas vezes nos v. 8,9), um termo que ressalta a autoridade singular da promessa divina: Eis farei que alguns dos que são da sinagoga de Satanás, desses que a si mesmos se declaram judeus e não são, mas mentem. – Essa metade do versículo pode remeter a Ap 2.9. Também em Isaías o nome honorífico é retirado de Israel, em certas situações: ―vós, príncipes de Sodoma… vós, povo de Gomorra‖ (Is 1.10). Em Is 1.21, Jerusalém é uma ―prostituta‖, cheia de ―assassinos‖. Da mentira de Israel fala o trecho Is 28.15-17, cf. 30.9-11; 59.13. Agora é novo o anúncio da conversão de judeus em Filadélfia: eis que os farei vir e prostrar-se aos teus pés e conhecer que eu te amei. Boa parte da frase encontra-se em Is 60.14 e em Is 43.4. Além do mais, está saturado de palavras ou idéias preferenciais do livro de consolação de Isaías.
É evidente que o Apocalipse faz uso desses elementos novamente de forma bem independente (cf. p. ex., Ap 1,7 e qi 23). Agora não são os judeus os procurados como alvo da peregrinação dos povos e reconhecidos como os amados por Deus, mas eles mesmos se põem a caminho, vêm à igreja formada de judeus e gentios, e reconhecem-na como o verdadeiro povo de Deus. A reivindicação dessa comunidade com a pequena força não era presunçosa. Cristo mesmo assume a iniciativa de oferecer a prova dela de modo arrasador.
Ecoa outra vez uma afirmação básica sobre a natureza da igreja, que já foi antecipada em Ap 1.5. Sua essência é ser amada junto de Deus e Jesus. Ser amado não é ser amável. Não é a qualidade da igreja que leva os judeus a se ajoelharem, mas (enfaticamente) ―ele, sim ele‖, o Senhor amoroso.
Observe-se que nesse ponto não se está falando de que na vinda de Jesus todos os judeus reconhecerão a verdade. Está sendo anunciada a conversão de alguns judeus. Constantemente alguns judeus isolados abraçarão a fé, o que será uma imponente experiência de consolo para a igreja. Os mais severos críticos a cercam, não achando ela resposta para a dolorosa pergunta: ―Como podemos saber que tu nos amas?‖ (Ml 1.2 [BLH]). Ao mesmo tempo, fica evidente como a designação ―sinagoga de Satanás‖ não deve ser entendida: ela não significa maldição de todos os judeus. Os membros da sinagoga não foram descartados, tão pouco como Pedro estava descartado quando o Senhor lhe declarou: ―Arreda, Satanás!‖ (Mt 16.23).
10 Segue-se uma segunda promessa: Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei (e salvarei) da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra. Agora se torna claro, qual é o conteúdo da conscienciosa manutenção da ―palavra‖ (v. 8). O anúncio de que o Senhor está vindo é parte essencial da verdadeira proclamação cristã da palavra. No cristianismo posterior infelizmente a idéia da morte ocupou boa parte desse lugar-alvo: depois de morrer o ser humano chega até Deus.
Assim como a igreja lida com a palavra, o Senhor lida com ela. A igreja que guarda será a igreja guardada. Jo 17.15 define a compreensão do termo ―guardar‖: ―Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal‖. Decididamente descarta-se o pensamento de que a igreja nem poderia entrar em perigo. Contudo, em terríveis épocas de tentação ela deve ser preservada pura. Como reflete Jo 17.17, ela será santificada na verdade (cf. também o comentário a Ap 7.2 e 12.14).
A provação (―o exame‖ [tradução do autor]) (sobre o termo, cf. Ap 2.10) perpassa todo o tempo escatológico, contudo não de modo homogêneo em termos de amplitude e intensidade (cf. o exposto sobre Ap 1.9). Existem picos, e haverá um último aguçamento no conflito entre Cristo e o anticristo. Um desses auges é a ―grande tribulação‖ (cf. o comentário a Ap 7.14), um acontecimento tanto para os fiéis bem como para os que habitam sobre a terra. Os que estão apegados à terra e se decidem entusiasmados por ela se entregam ao seu seio para usá-la como barricada contra Cristo e o reino dos céus (cf. 6.10; 8.13; 13.8,12,14; 17.2,8; em 11.10-12 habitantes da terra é substituído por ―inimigos‖). Todos serão agora examinados definitivamente sobre seu posicionamento diante de Deus e de seu Cordeiro. Em meio a tudo isso, acontece o milagre da preservação (cf. as exposições sobre Ap 7.3; 9.4; 11.1; 12.6,14,16; 14.1).
11 Às duas palavras de consolo sucede-se finalmente uma exortação (EXCURSO 1d), que evoca Ap 2,10: Venho sem demora (―Eis que venho subitamente‖ [tradução do autor]) (cf. Ap 1.3). Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa (―grinalda‖). A expressão poderia ser entendida de tal maneira como se a igreja já possuísse a grinalda. Contudo nenhum competidor corre com a coroa; e Filadélfia ainda não se encontra no alvo. Os louros da vitória já foram ―depositados‖ (2Tm 4.8) e serão ―preservados no céu‖ para ela (1Pe 1.4), porém ainda não lhe foram impostos. ―O atleta não é coroado se não lutar segundo as normas‖ (2Tm 2.5). A igreja ainda poderia perder muitas coisas: o evangelho, a perseverança por Jesus, o amor aos inimigos, a independência de honra e fama, e em suma, por isso, a grinalda da vitória.
12 Com essas observações fizemos a transição para o oráculo do vencedor (EXCURSO 1f): Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus. Conforme o v. 9 o Senhor fala novamente a respeito do seu procedimento. É uma ação criadora, como também o conhecem Isaías e o AT. No v. 9, a ação referiu-se aos adversários, aqui refere-se à comunidade vencedora. Anuncia-se a ela uma transformação de figura. Sua atual e momentânea figura (v. 3) não é sua figura definitiva. ―Ainda não é manifesto o que havemos de ser‖ (1Jo 3.2). Pois semeia-se corruptível, em fraqueza e desonra, porém ressuscitará incorruptível, em poder e glória (1Co 15.42,43).
A respeito da nova estatura pode-se falar apenas em metáforas, no caso na metáfora da coluna. O termo não alude à função de sustentáculo (como, p. ex., em Gl 2.9; 1Tm 3.15), porém, conforme 1Rs 7.15-22; 2Rs 25.13-17; Êx 13.21; Jr 1.18 à sua função de sinal. Ela é uma testemunha destacada, visível de longe, e impossível de derrubar. Depois do testemunho fiel apesar da pouca força (v. 8), o vencedor será agora uma testemunha glorificada de Deus.
A coluna está erigida no santuário (―templo‖). Fica esclarecido, a partir de Ap 21.22, que aqui tudo se move num quadro simbólico, pois na consumação não haverá mais santuário (cf. o comentário a Ap 11.1). Talvez haja uma alusão à situação contemporânea. Era permitido que os sumo sacerdotes do culto ao imperador mandassem erigir para si uma coluna memorial no templo. Também no presente texto trata-se da idéia de que o Senhor honra o servo fiel. ―Se alguém me serve, siga-me, e, onde eu estou, ali estará também o meu servo. E, se alguém me servir, o Pai o honrará‖ (Jo 12.26). E daí jamais sairá. Triunfa a preservação (v. 10). O lado de fora, onde se debatem os blasfemos (Ap 22.15), ficou, pois, totalmente afastado. Os vencedores permanecem no serviço para sempre. ―Habitarei na Casa do Senhor para todo o sempre‖ (Sl 23.6).
O aspecto seguinte talvez faça conexão com o fato de que as colunas memoriais nos templos daquele tempo recebiam inscrições com o nome do pai, o local de nascimento e o ano de serviço. Por outro lado, a comparação da coluna já é abandonada, passando-se a desenvolver amplamente a breve menção do novo nome feita em Ap 2.17: a mera menção torna-se uma inscrição (na testa, em Ap 9.4; 14.1; era a forma com que na Antigüidade as pessoas identificavam seus escravos e assumiam publicamente seus serviços e sua proteção). Escrever solenemente significava tornar algo irrevogável. ―O que escrevi escrevi‖ (Jo 19.22). Além disso, em contraposição a Ap 2.17, de um nome formam-se três. Cada um deles expressa uma parte da autoridade. Plenitude de nomes significava plenitude de poder. Finalmente o novo nome revela-se como o nome de Deus (num desdobramento trinitário?).
O primeiro nome: gravarei também sobre ele o nome do meu Deus. Dessa maneira confirma-se Jo 20.17: ―Meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus‖ (cf. nota 128). Agora Filadélfia é incontestável e irrevogavelmente igreja de Deus. E o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que desce do céu, vinda da parte do meu Deus (Ap 21.2,10). Sua cidadania, que até agora estava oculta (Fp 3.20; Gl 4.26; Hb 12.22), torna-se patente. E o meu novo nome. Finalmente eles serão participantes do novo nome de Jesus (Ap 19.12,13,16), ou seja, na sua nova vigência. Governarão com ele.
13 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas (quanto aos ditos de gravação, cf. EXCURSO 1e). Nessa mensagem, como no livro de consolação de Isaías, o assunto é certificar da condição de salvos: ―Tu és meu!‖ Isso o Espírito afirma precisamente a uma comunidade, à qual os importantes (os judeus) o negam. Sua voz não coincide com a voz da devoção humana, pois ele entende mais do amor de Deus em Jesus Cristo que a religiosidade humana jamais seria capaz de sonhar. Dessa primeira promessa decorre a segunda: ―Tudo que é meu, é teu!‖ Como Deus não nos daria tudo com Cristo e não nos faria participantes de toda a plenitude do seu nome? Quem é filho, também é herdeiro.

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