O que significa “em espírito e em verdade”?
João 4. 23 e 24
by Gedeon Martins
Após concluir que o local exclusivo da adoração não era um assunto importante, Jesus passa a demonstrar a mulher que tema é realmente importante para alguém que queira ser um adorador de Deus.
Inicialmente ele mostra que há um desconhecimento da parte dela e dos samaritanos: “Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos Judeus”.[1] Para Hendriksen essa falta de conhecimento do que se adora, diz respeito ao fato dos samaritanos rejeitarem “os livros proféticos e poéticos do Antigo Testamento”.[2] Sem o conhecimento exato das Escrituras, os samaritanos não conseguiriam distinguir a prioridade da adoração, e assim, entender que não é o lugar e sim o quê adorar. Com o conhecimento das Escrituras todos entenderiam que o Messias surgiria entre os Judeus, e ele seria o único portador da salvação. E por isso, que ao invés de onde adorar ele iria mostrar como e o que adorar.
O tempo agora é um estado perfeito, e “na mente do nosso Senhor, o estado perfeito do futuro é visto no presente”.[3] Em outras palavras, aquilo que se esperava, como que em um futuro distante, é visto no agora, no tempo deles. O que o Senhor quer mostrar a mulher samaritana é que o tempo dos símbolos, sacrifícios, templos e montes estão chegando ao fim e um novo está começando, a era dos que adoram em Espírito e em Verdade. “O véu do templo será logo partido em dois, de cima a baixo (Mt 27.51), e com ele o último remanescente da validade da adoração cerimonial também desaparecerá”.[4]
Dessa forma, a mensagem dos estereótipos e a aparência religiosa serão substituídas por um comprometimento com aquele que está sendo adorado e com a sua mensagem. O início dessa nova era de adoração teria como ponto de partida o congregar dos discípulos do Senhor. Estes, por sua vez, serão conhecidos pelo respeito e resignação diante das ordens, mandamentos do seu Senhor. Sobre “No quarto evangelho, o verbo adorará (indicativo futuro de Proskusen) nunca tem apenas o sentido de ‘respeitará’”.[5] Assim, fica claro que o envolvimento é completo, com atitude e demonstração natural e prática deste respeito. Se crer em Cristo e vive essa fé com comportamento digno e integralmente bíblico.
Jesus enfatizou, seguidamente, duas coisas: a. A adoração que merece ser assim chamada não é obstruída por considerações físicas, ou seja, por este ou aquele local (Jo. 4.21); b. Essa adoração opera no reino da verdade: um conhecimento claro e definido de Deus, derivado de sua revelação especial (Jo. 4.22). Nesse cenário, parece, pelo menos para nós, que a adoração em espírito e em verdade só pode significar: a. honrar a Deus de tal maneira que todo o ser entra em ação; b. fazer isso em perfeita harmonia com a verdade de Deus, conforme se encontra revelada nas Escrituras.[6]
Essa adoração não será representada somente por antagonismo entre espiritual em vez de físico; interior em vez de exterior. Tudo se inicia por uma transformação promovida pelo Espírito Santo na vida dos adoradores e os concede o primeiro passo para os credibilizar como tais. Desta forma, cria-se uma revelação continua entre o Espírito e aquele que foi transformado, bem diferente da visão religiosa e sectária da época. E fica evidente que, exclusivamente, são “estes que o pai procura para seus adoradores”.[7] Podemos perceber que a exclusividade de Deus para adoração não diz respeito a origem ética, regionária ou genérica, e sim, de uma atitude. A ação em questão é a disponibilidade do ser em se moldar a exigência de transformação do Espírito. Assim, podemos dizer, enfaticamente, que a busca de Deus é feita pelos adoradores, transformados e salvos para o serviço do reino dos céus.
A ideia apresentada por Jesus, neste diálogo, nos mostra que o buscar de Deus (João 4.23) remete a uma obra salvífica, onde “Deus, e não o ser humano, é sempre o que toma a iniciativa”.[8]
Ser espírito é ser salvo pelo Senhor e assim ser credenciado para adoração.
Jesus segue o diálogo mostrando por que Deus requer uma transformação na vida e no ser dos adoradores. Não só requer como também é o agente da transformação. No versículo 24, ele diz: “Deus é Espírito”. Isso demonstra claramente por que existe a necessidade da adoração ser espiritual; é pelo fato daquele que esta sendo adorado ser essencialmente Espírito. O uso do termo ‘Espírito’ empregado no texto não tem o objetivo de falar da substância de Deus, como sendo alguém sem matéria e impalpável, esse não é o objetivo. A ideia primordial é demonstrar que “Deus não é trevas, mas é totalmente santo, totalmente inteligente, totalmente puro, totalmente exaltado. Ele é luz”.[9] Em outras palavras, Ele é essencialmente oposto ao carnal (pecado), ao físico (estatua de madeira, pedra, montes e etc). E no Seu requerimento, o pai exige dos adoradores a mesma oposição ao que é carnal. Deus é Espírito, e seus adoradores, assim, também, devem ser.
Mas existe um guia regente para que essa adoração aconteça em conformidade com a vontade de Deus. Essa adoração tem que ser ‘Em verdade’.
Esse é um princípio que não está passivo a subjetividade, ou seja, não é uma verdade passiva a vontade de terceiros, relativa, ou mesma, uma verdade qualquer. Jesus está tratando da verdade referência para todos os seres, que é de fato, feita pelo mesmo Deus que transforma em Espírito o adorador (veja versículo 24, Deus é Espírito). Ao passo, que Deus transforma em Espiritual os que Ele busca por adoradores, como também, os ensina a adorar segundo seu eterno designo. E o que será esta verdade? As Escrituras Sagradas!
O que fica evidente é que o Senhor não nos deixa nos escuros, tateando, sem saber para onde ir. As Escrituras Sagradas é a verdade deixada por Deus aos seus adoradores, para que estes, por sua vez, saibam como adorar ao seu Deus de forma agradável ao mesmo. “Essa adoração, portanto, se dirigirá ao Deus verdadeiro conforme ensinado nas Escrituras, e conforme revelado na obra da redenção”.[10]
Assim, aqueles que Deus quer como seus adoradores devem ser transformados pelo Espírito, em pessoas espirituais e que se guiam pela verdade eterna e soberana das Escrituras. Isso é uma mudança da alma, dos conceitos e valores, que será refletida na mudança das atitudes. Champlim chega a citar 5 preposições que Deus requer dos seus adoradores:
1. Através da missão de Cristo e da administração da Sua palavra, 2. Na conversão e santificação da alma, Jo 3.3 e 1Tes 4.3; 3. Nas operações do Espírito, que transformam os homens segundo a imagem de Cristo (II Co 3.18), guiando-os assim de um estágio de glória outro, ad infinitum; 4. Nas operações do Espírito, que desenvolvem nos crentes as virtudes espirituais, Gl 5.22, 23; 5. Através dos diversos meios de desenvolvimento espiritual, como a meditação, a prática das boas obras (cumprimento da lei do amor), a possessão e o uso dos dons espirituais, e a santificação.[11]
Podemos resumir o que foi dito por Champlim de uma forma objetiva, que os verdadeiros adoradores (os que o adoram em Espírito e em Verdade) são aqueles que nasceram de novo e que vivem e adoram segundo os princípios das Escrituras Sagradas.
Portanto, concluímos que o culto agradável a Deus é feito por pessoas integralmente espirituais, no seu cotidiano com vida santa; e, espirituais no culto, fugindo de ritos vazios e sem fundamentos, para apresentar a Deus um culto segundo as Escrituras Sagradas.
Retirado da Monografia: “O CULTO AGRADÁVEL A DEUS A PARTIR DO DIÁLOGO DA MULHER SAMARITANA COM JESUS”.
AUTOR: Gedeon Martins
Em exigência ao processo de ordenação pastoral da ALIANÇA DAS IGREJAS EVANGÉLICAS CONGREGACIONAIS DO BRASIL. Ano: 2011.
CAPÍTULO 1.2.
49 págs
Caruaru-PE
[1] ALMEIDA, João Ferreira. A Bíblia Sagrada, Revista e Atualizada no Brasil. João 4.22
[3] Idem. Pág. 225
[4] Idem
[5] Idem
[6] Idem
[7] ALMEIDA, João Ferreira. A Bíblia Sagrada, Revista e Atualizada no Brasil. João 4.23
[8] HENDRIKSEN, William. O Evangelho de João. Ed. Cultura Cristã. 2004. Pág.226
[9] CHAMPLIM, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado: Versículo por versículo, Lucas e João. Ed. Hagnos. São Paulo. 2002. Vol.2. Pág. 328
[10] HENDRIKSEN, William. O Evangelho de João. Ed. Cultura Cristã. 2004. Pág. 225.
[11] CHAMPLIM, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado: Versículo por versículo, Lucas e João. Ed. Hagnos. São Paulo. 2002. Vol.2. Pág. 327
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